10 fevereiro, 2016

Estudantes a tempo inteiro: Mais escola, menos família

TRRRIMMM! Hora da saída.

Quem é que não gostava de ouvir o toque da campainha? Nas escolas, era um som aguardado por todos, tornando-se quase num símbolo de liberdade para alunos e professores. (Sim, não adianta levar o assunto só para o lado das crianças!)


De acordo com a imprensa, o Ministério da Educação quer aumentar a carga horária escolar e está a estudar a possibilidade de os alunos até ao 9º ano terem aulas o dia inteiro. O intuito é ocupar os jovens com conteúdos extracurriculares e, ao mesmo tempo, conciliar o horário de saída dos alunos com os dos pais. Há quem aplauda a medida, que a ser aprovada só entrará em vigor em 2019, e há quem levante a voz contra a mais recente ideia do Governo. 

Enquanto alguns pais pensam que vão começar a poupar no ATL - que pela lógica já não será necessário, outros ficam preocupados com o pouco tempo livre dos filhos para a família e outras atividades.

A medida apresentada poderá ser uma esperança para os docentes em situação de desemprego, alega-se, já que será necessária a contratação de mais professores e funcionários.
A avançar, é uma decisão que acarreta um grande investimento. E, para já, não se sabe até que ponto os encarregados de educação e as câmaras municipais não terão de contribuir financeiramente para este aumento da carga horária.

Agora, vamos voltar atrás:


Se a memória não me falha, visto que já se passaram uns doze anos, eu costumava sair das aulas muito antes das 18 horas. Arrumava os livros na mochila à pressa e, quando não ia logo para casa, ficava com os meus amigos. Era comum irmos até uma lojinha para comprar gomas ou ir à loja das sandes comer um cachorro quente. Outras vezes o programa era ir até ao jardim passear, brincar no coreto e nos repuxos, ou simplesmente ver montras de lojas. Costumava regressar a casa de autocarro, o que, parecendo que não, sempre me dava alguma autonomia. E, quando o perdia, não havia problema... tinha sempre companhia enquanto fazia o caminho a pé até casa. Tinha tempo e podia usá-lo como quisesse. E não foi por isso que enveredei por maus caminhos.

Depois fui crescendo, e tive de trocar estes doces momentos por umas horas semanais na explicação de matemática. (Já nessa altura estava mais do que comprovado que a minha paixão não eram os números). E assim o tempo começou a ser distribuído de uma maneira diferente, e eu tomava consciência que o meu dia girava, quase completamente, em torno da escola.

Na verdade todos sabemos que, mesmo depois do toque da campainha, há muito trabalho a ser feito em casa. Os alunos têm os polémicos TPC's, explicações a uma ou mais disciplinas, apresentações para preparar, centenas de páginas para estudar...


Já os professores, diga-se, também não têm vida fácil. Ensinar é um privilégio, mas pode ser, igualmente, uma profissão ingrata. As aulas têm de ser preparadas, há fichas e testes para corrigir, reuniões de departamento, avaliações intercalares, atas para entregar... E muitas vezes leccionam longe da área de residência e têm fazer deslocações ou alugar casa no sítio onde foram colocados. 

Mas o maior desafio é, sem dúvida, lidar com crianças e jovens que tantas vezes têm défices de atenção, são problemáticos ou têm dificuldades de aprendizagem. Quão difícil pode ser captar o interesse de jovens que, hoje, só tomam atenção ao tablet e ao telemóvel? Quantas vezes o professor não sairá da escola esgotado pelas tentativas de disciplinar a turma, de manter a ordem e, até, de conseguir silêncio?!


A ideia que pretendo transmitir é a de que todos precisamos de tempo nas nossas vidas. É preciso que haja um tempo para se ser criança, como eu fui. É preciso que haja um tempo para brincar com os colegas e vizinhos. Tempo para estar em casa com os pais e brigar com os irmãos. Tempo para se conversar e ver televisão. Tempo para respirar e para se ter vida para lá das obrigações diárias. Tempo para que o crescimento possa ser de qualidade. 
Equilíbrio, meus senhores! É o essencial.

Esta é uma questão transversal. Há que haver, igualmente, liberdade para os próprios professores. Que também têm família, também são pais. E que, muitas vezes, passam mais tempo com os filhos dos outros, do que com os seus próprios.

Estas perspectivas do Governo, a avançarem, só vão acentuar de uma forma abismal uma lacuna já existente na vida de alunos e professores. 

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